quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Sobre escolhas, sonhos impostos e a vontade própria


É engraçado o quanto diversas pessoas tentam impor a vontade delas sobre outros seres humanos. Isso acontece em muitas esferas sociais, de diferentes formas, mas neste momento o que quero tratar é sobre estas questões em relação ao ambiente familiar.

Quem nunca teve aquele parente próximo que chega e diz: “Quando você crescer, depois de estudar muito, vai ser médico e ter muito dinheiro”? Bom, não se trata só de Medicina, mas também Engenharias, Direito ou trabalhar na Petrobras, seja lá com que profissão... No fim, o que importa é a visão neoliberal e o dinheiro que você deve ter. É uma cultura lamentável da nossa sociedade capitalista, pois isso acaba limitando muita gente justamente na idade que as pessoas descobrem seus próprios dons.

Geralmente este tipo de situação é recorrente quando se é criança até adolescente, mas também transpassa a vida adulta. É ainda mais presente nos tempos de vestibular. Os familiares mais próximos, amigos da família e pessoas próximas em geral, sempre te colocam, de pouco em pouco, a obrigação de ter um emprego onde você ganhe bem e geralmente seguir uma profissão que tem status na sociedade. Jovens são pura energia, transformam suas visões o tempo todo, é a época de descobrir suas habilidades e o que de fato você gosta de fazer. Infelizmente o modelo de escola que temos hoje não nos permite explorar a nossa capacidade intelectual como um todo e a sociedade nos moldes neoliberais não nos dá muitas chances para seguir as carreiras que desejamos realmente, em geral. Logo, parece que é uma obrigação você com 18 anos ter que escolher a profissão que vai seguir para toda a vida, já planejar todo o seu futuro, passar de primeira no vestibular e, sobretudo ganhar muito dinheiro. Aí você vai dar orgulho pra sua família. O quanto antes tiver status, melhor para todos.

Isso é realmente o correto? Tenho certeza que não. Primeiro muitos jovens demoram a descobrir suas habilidades, seus dons e as carreiras que gostariam realmente de seguir. Isso não necessariamente (e quase nunca, na verdade) acontece aos 18 anos. Porém, há toda uma pressão para que você passe da escola direto pra faculdade. Jovens, não sintam essa pressão toda. É benéfico sim passar direto pra faculdade, principalmente se for um curso que realmente deseja. Mas não se sinta na obrigação de abraçar o mundo antes do tempo certo. Isso é um câncer cultural que obriga as pessoas a tomar decisões que não querem. Se você quer ter mais tempo para decidir o que quer fazer, não tenha medo de ter. Seja sincero e fale com seus pais, não desista da sua própria vontade.

Muita gente que chega ao ensino superior acaba largando por não ser exatamente o que a pessoa queria. Isso acontece muito pelos fatos que citei anteriormente. Claro que há a parcela de pessoas que realmente achavam interessante e na prática acabam por não gostar. Mas sinceramente, acho a menor parte. A maior parte dos abandonos do ensino superior se devem ao fato da pressão absurda de entrar numa universidade antes mesmo de você realmente saber o que quer ou pelo menos ter uma boa ideia. Com essa pressão, você acaba por escolher qualquer coisa ou o menos pior. Não é o sentimento de “ah, essa carreira é muito bacana, é isso que quero fazer”. Antes disso tudo, tem que ser feita muita pesquisa, muita reflexão e realmente pensar de vale a pena.

Pior do que isso é completar um curso apenas para agradar seus pais. Nunca faça isso. Se seu pai quer que você faça Medicina e você quer fazer Geografia, seja forte e escolha o que você realmente quer. Não adianta ser um profissional eternamente insatisfeito com a própria profissão. Esse pensamento é válido para qualquer área. Tenha força de vontade e siga o seu coração, sem medo de errar. Muitas pessoas acabam por te dizer que a profissão x ou y é legal, mas que não vale a pena porque você vai ganhar pouco. Chegamos a um paradoxo. Ganhar muito dinheiro é legal sim, é importante, mas isso substitui o valor e o amor que a pessoa pode dar a uma profissão que ela mesma escolheu? Quer dizer que se a pessoa for um professor e ganhar 1200 reais por mês, mas ser um grande profissional, realizado, trabalhar de forma admirável e honrar com seus compromissos, esse caminho não vale a pena? Vale sim, e muito! Não adianta ganhar um salário alto, agradar a cultura capitalista, e ser um frustrado.

Outro engano também é sobre o salário. Toda profissão tem como você ganhar muito bem. Sim, é mais difícil em algumas, leva mais tempo, mas toda profissão tem seus extremos, tanto para baixo quanto para cima. Ou seja, um médico pode ganhar mal e um músico free-lancer pode ganhar muito bem. Sim, pode. O que define se você vai ganhar bem ou mal, geralmente é a sua dedicação ao que faz. Oportunidades aparecem para quem busca para quem quer sempre melhorar e crescer na sua profissão. Logo, chegamos ao primeiro fato: é mais fácil se dedicar muito e crescer absurdamente numa profissão que goste, seja qual for, do que numa profissão que foi imposta a você. Sim, pode ser que não dê certo, você pode acabar ganhando mal. Mas essa é a vida, ela não é justa mesmo, mas você nunca vai se arrepender de ter feito a escolha errada, e sim orgulho de ter tentado e seguido o caminho que desejou.

Um dos discursos que mais me irrita é o do “mas essa profissão não dá futuro”. Espera aí, como assim não dá futuro? Ah sim, sempre entra a questão do dinheiro. Sempre ele, não é? As pessoas querem te obrigar a ingressar num curso superior para que você tenha mais dinheiro. Isso tem duas vertentes diferentes:

1)      Sim, de uma forma geral, um curso superior te possibilita uma maior chance de ter mais dinheiro. Você pode fazer mais concursos, sua profissão possivelmente será mais bem remunerada e por aí vai.
2)      Por ouro lado, não é regra que você vai ganhar mais. Você pode ser formado em algo e ganhar 1000 reais e uma pessoa com apenas o ensino médio pode ganhar o triplo. Isso não quer dizer nada, só depende você.

O que eu não gosto é a relação de “universidade x dinheiro”. As pessoas deveriam escolher entrar na universidade porque ter mais conhecimento é bom. Deveria ser uma busca pelo conhecimento de alguma área que você admira, para e fazer crescer como cidadão e ser humano e não necessariamente estar ligado ao pensamento capitalista. Infelizmente está, pois vivemos num mundo que tem o capital como foco, mas esse não é escopo de uma escola de pensamentos ou de um ambiente de produção de conhecimento e reflexão constante. Claro que lembrando sempre do panorama da sociedade humana, é possível que alguém que aproveite a universidade da melhor maneira possível, seja um profissional com mais chances de ter dinheiro.

Mas veja bem, isso é que é interessante. Tenha amor pelas ideias, viva pelos seus desejos e pela sede de conhecimento. Busque crescer no curso que escolheu viver e conviver intensamente aquele universo, não buscando exatamente o retorno financeiro, mas o seu crescimento como pessoa. Muito provavelmente se o fizer, também será recompensado com o tal salário alto que todos querem que você tenha. Não faça nada por fazer ou por obrigação, faça por prazer, por vontade... A vida provavelmente te recompensará e sua dedicação e seus sonhos não serão em vão. Mas tenha foco e fé em si mesmo, não se esqueça do seu próprio caminho e das suas metas como pessoa.

Por fim, gostaria de ressaltar algo que realmente me incomoda. Ninguém é obrigado a ter ensino superior. Se você não quer, se não há nenhuma carreira que você realmente goste, não tenha vergonha ou medo de não fazer. Simplesmente não faça. Isso é um direito seu. Sobretudo é uma consideração com a própria sociedade, afinal ocupar uma vaga em uma universidade apenas por que as pessoas te obrigaram a fazer aquele curso, não levar nada a sério e acabar saindo de lá apenas com um diploma sem realmente vivenciar o universo do curso que fez, é melhor não fazer. Se seu dom é ser vendedor, trabalhar em banco, ser padeiro, ator, atriz, músico, artista em geral, gari, motorista, confeiteira, doméstica ou qualquer outra coisa que você realmente goste e não necessite, diretamente, de um curso superior... Seja sem medo. Não tenha vergonha de não cumprir a expectativa de status de terceiros. Não há “sub-empregos”, todos são importantes e a sociedade funciona pois cada um deles tem seu próprio papel. Todos são importantes, absolutamente todos! Não fique com vergonha de ser o que você é, tenha orgulho de gostar de fazer o que faz.

É claro que eu compreendo a necessidade do dinheiro, infelizmente não é possível fazer tudo que quer e viver sem ele. Mas busque algo que realmente você queira fazer, um papel que definitivamente queira desempenhar. Não foque apenas o lado financeiro, reflita sempre sobre a sua própria vontade e seus sonhos.

Não viva a vida que os outros querem que você viva. Seja você, por você. E orgulhe-se de saber que escolheu seu próprio caminho e se dedicará seja lá com o que for, seguindo com sorriso no rosto por não ter a vergonha de buscar a sua própria felicidade, sem estereótipos sociais, idolatria do status e busca doentia pelo dinheiro. Viva e se permita viver de verdade.



Este texto foi escrito após uma reflexão sobre alguns dos grandes problemas da sociedade, numa madrugada quente na primavera.



Renan de França Souza

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Santuário dos Números


&


quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Discreto


Área de Proteção Ambiental do Engenho Pequeno
São Gonçalo, Rio de Janeiro